Pregar todo o conselho de Deus

Nelson Salviano

Paulo afirma ousadamente que proclamou integralmente as Escrituras aos crentes em Éfeso: “Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20:27). Certamente, ele não fez uma exposição versículo por versículo do Antigo Testamento, pois permaneceu naquela cidade apenas dois anos e meio. O que ele está dizendo aos anciãos e líderes da igreja em Éfeso é que ensinou o conteúdo da revelação de Deus, sem omitir nada que era de primordial importância nem negligenciar os pontos aparentemente difíceis. Desta forma, ajudou os fiéis a compreenderem toda a doutrina bíblica, além dos princípios e virtudes do Cristianismo contidos na Palavra de Deus. Esse conteúdo os tornaria mais equipados para lerem a Bíblia de forma inteligente e abrangente.

Portanto, o ensino de Paulo aos Efésios incluiu:

  • Os propósitos de Deus na história da redenção;
  • A revelação da origem, queda, redenção e destino humano;
  • A conduta esperada do povo de Deus;
  • As promessas de poder transformador tanto nesta vida quanto no porvir.

Imagem gerada com IA. 07/06/2024

O ensino e a pregação da Palavra de Deus podem determinar o destino espiritual eterno das pessoas. Por isso, devemos ter o cuidado de incluir todo o conselho de Deus em nossas prédicas. Se não o fizermos, corremos o risco de sermos responsabilizados pelo sangue daqueles que se perderem dentre o rebanho que nos foi confiado (Ez 3:18-19). Se alguma verdade for omitida, as consequências espirituais podem ser desastrosas para indivíduos e igrejas.

Assim como uma testemunha se compromete em um tribunal a “dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade”, deveríamos fazer o mesmo como pregadores, ensinando toda a Palavra de Deus (Mt 28:20). Mas, por que alguns pregadores se recusam a expor todo o conselho de Deus? Por que há pregações e ensinos rasos que não produzem transformação espiritual nas pessoas? Talvez a resposta esteja no desejo de muitos pregadores por popularidade e em ser “politicamente corretos”. Não querem confrontar as pessoas quanto ao pecado, têm medo de perder sua posição na igreja e, por isso, não estão convencidos e empenhados em ensinar fielmente as Escrituras. Não se importam realmente com o destino espiritual dos seus ouvintes. No entanto, não há diferença entre omitir o ensino dos estatutos e juízos de Deus e ensinar falsa doutrina. Ambos farão com que as pessoas permaneçam perdidas, e o responsável responderá por isso (Hb 13:17).

A influência do mundo atual, que exclui Deus, também tem alterado a atitude das pessoas em relação às Escrituras Sagradas. Nossa sociedade é cada vez mais materialista e menos espiritual. Muitos cristãos estão se movendo em direção ao neoliberalismo e ao consumismo contemporâneo. E há líderes que se omitem de ensinar e pregar os decretos de Deus contidos na Bíblia de forma completa e integral. O arauto de Deus deve ser ousado e corajoso em seu ensino e pregação, como Pedro e João fizeram, depois de terem sido presos e ameaçados para não ensinar a verdade (At 4:29).

Também devemos seguir o conselho que o apóstolo Paulo deu a seu filho na fé, Timóteo:

“Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério” (2 Tm 4:1-5).

Ninguém deve alterar a verdade para se adequar a si ou aos outros (Dt 4:2; Mt 5:18). Se um pregador ou professor retém a verdade porque alguém não vai gostar de ouvir, ele não está qualificado para pregar ou ensinar a Palavra de Deus. Cada pregador do Evangelho deve cumprir sua nobre tarefa de pregar e ensinar todo o conselho de Deus se quiser ser agradável diante de Deus.

Infelizmente, há uma tendência à neutralidade quanto à pregação da Palavra de Deus hoje. O pregador conhece a verdade, mas tem medo de ensiná-la e assim perder seus “benefícios” na igreja. Como muitos pregadores não conseguem tratar dos problemas e pecados da congregação a partir do púlpito, esta se torna aberta a todos os tipos de erro. O próprio Senhor Jesus nos ensina que um homem não pode ser neutro no serviço do Reino: “Quem não é comigo é contra mim; e aquele que comigo não ajunta, espalha” (Mt 12:30). A igreja enfrenta problemas que só podem ser abordados por homens que amam a verdade e que têm a mesma atitude para com a pregação que o apóstolo Paulo (At 20:20,26-27; Gl 2.5; Fp 1.17). Homens que preguem e exaltem os princípios da verdade, independentemente das consequências. Homens cuja pregação do evangelho irá produzir arrependimento, confissão e fé nos corações das pessoas (2 Pd 2:5; Jr 1:9-10; Lc 1.17; Mt 3:1-3; 14:3-4; Gl 2:5; Fp 1:17).

Finalmente, uma das tendências atuais que mais entristece o coração de Deus talvez seja a “pregação profissional” na igreja. Pregadores profissionais são muito parecidos com políticos, cujo discurso segue o que as pessoas querem ouvir (2 Tm 4:3-4). Um pregador profissional não se dirige ao púlpito com coragem, persistência e ousadia para trazer transformação pela Palavra de Deus, mas está interessado em fazer com que mais e mais dinheiro entre no “gazofilácio” da igreja. Ele vê seu trabalho como um advogado ou um médico, ou outros profissionais que buscam agradar ou satisfazer seus clientes ou seu próprio bem-estar do ponto de vista de influência, popularidade e bens materiais. O pregador profissional é um “mercenário” que se certifica de “guardar sua influência e popularidade”. Quando ele “vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; e o lobo pega as ovelhas e as espalha” (Jo 10:12).

Por outro lado, o pregador temente a Deus prega o evangelho porque ama a Deus, a igreja e os perdidos. Ele pregará o evangelho, independentemente das circunstâncias ou das consequências. Sua atitude para com a suprema vocação de Deus é a mesma do Apóstolo Paulo: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (1 Co 9:16). Que Deus nos ajude a anunciar os decretos de Deus sem omissões, fielmente ao texto bíblico, com todo temor e para a glória de Deus.

Nelson Salviano

É ministro do Evangelho, bacharel em Teologia, mestre em Missões e Estudos Transculturais pelo All Nations Christian College (Inglaterra). Especialização em Pregação Expositiva pelo Cornhill Training Center (Londres) e Stephen Olford Centre for Expository Preaching (Memphis, TN, USA).

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