Quando a Palavra de Deus é fielmente transmitida, a voz de Deus é legitimamente ouvida. O que Deus falou nas Escrituras, Ele ainda fala hoje. Estes princípios precisam ser constantemente recomendados à Igreja de Jesus. Porém, no mundo moderno, onde muitos querem ouvir a Palavra de Deus apenas para receberem bênçãos instantâneas, alguns pregadores são tentados a pensar que sua mensagem deve ser diferente ou talvez até superior ao que Deus falou na Bíblia. Contudo, a ideia que temos acerca do texto bíblico não deve vir de dentro de nós mesmos, como se tivéssemos uma revelação especial. Mas, Deus, através do Espírito Santo, nos ajuda a discernir o que Ele está dizendo a respeito Dele mesmo na Bíblia.
Muitos pensam que pregação expositiva é um tipo especial de se pregar expondo um versículo de cada vez do início ao fim do sermão. Pregação expositiva, porém, é todo sermão em que o conteúdo e a intenção do texto a ser pregado determinam o conteúdo e a intenção da mensagem do pregador. No sentido mais básico, é dizer o que Deus diz. A pregação expositiva leva a Bíblia a sério como a Palavra inspirada e inerrante de Deus e busca entendê-la, explicá-la, e aplicá-la para conduzir a igreja de acordo com Sua verdade. A própria palavra “exposição” traz a ideia de colocar algo em lugar aberto e tornar acessível aquilo que é obscuro ou está fora de alcance. Uma pregação expositiva é uma pregação bíblica porque seu alvo é ser totalmente determinada pelo texto. O pregador deve dizer o que o texto diz, prometer o que o texto promete, alertar como o texto alerta e oferecer o que o texto oferece.
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Muitos dirão: “Eu sou um pregador da Bíblia!”, pois certamente acreditam na Bíblia e a usam em suas pregações. Mas, vamos pensar sobre a igreja sob a analogia de um carro. Em algumas igrejas, a Bíblia está no porta-malas do carro. Ela foi esquecida lá há muito tempo, e se perdeu. Em outras, a Bíblia está no banco de trás do carro — e todos nós sabemos o quão irritante é dirigir com alguém nos conduzindo do banco de trás. Os ouvintes desses pregadores veem a Bíblia mais como uma irritação do que uma ajuda. Ainda Os ouvintes desses pregadores veem a Bíblia mais como uma irritação do que uma ajuda. Ainda na maioria das igrejas, a Bíblia está frequentemente no banco do passageiro, ao lado do pregador-motorista. Ela está lá para ser consultada como um GPS ou um mapa. O pregador conversa com ela como se fosse um passageiro — mas ela não está dirigindo o carro. Na pregação expositiva, porém, a Bíblia está no assento do motorista, conduzindo o sermão. O pregador é o porta-voz de um texto da Escritura, e não pode dizer nada além da Palavra de Deus. Ele torna-se inteiramente submisso ao texto, trabalhando de acordo com o pensamento do autor original; ele é o passageiro e a Bíblia, o motorista.
O pregador-passageiro deve focar na autoridade exclusiva das Escrituras para que a Bíblia possa ditar o conteúdo da sua mensagem, e conduzir o sermão como um motorista conduz um carro. Para tanto, é preciso permitir a Bíblia contestar nossas pré-suposições sobre ela mesma e permitir que ela nos instrua de maneiras novas. A tarefa do pregador é demonstrar que não existe nada mais relevante que a Palavra viva do Deus vivo.
Nas igrejas onde os membros são habituados a ouvir pregações expositivas, a congregação se torna mais habilitada a ouvir Deus falar ao invés de ouvirem o pregador dizer o que pensa que eles precisam ouvir. Quando a Bíblia é a força mais importante no púlpito, as pessoas têm o melhor antídoto contra o erro e o melhor alimento espiritual para a alma. Se o pregador é um expositor consistente das Escrituras, ele descobriu que a mensagem carrega sua própria autoridade e as pessoas não serão salvas por sua oratória e eloquência, mas por ouvirem a Palavra de Deus.
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A base bíblica para a Pregação Expositiva se encontra em muitos lugares na Bíblia, permita-me citar apenas três. Talvez o texto mais importante seja 2 Timóteo 3:16-17, pois indica que a Escritura é “inspirada por Deus”, isto é, a Bíblia é a Palavra de Deus. A termo “inspirada” também mostra uma ligação entre o trabalho do Espírito de Deus e a obra da Palavra de Deus. O versículo continua dizendo que a Escritura é “útil para o ensino, para repreensão, para correção, para a educação na justiça”. Isso mostra que a Bíblia não é teórica, mas prática na sua aplicação. Por fim, afirma que isso é “a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra“. Isto mostra a suficiência da Escritura. Ela é tudo que um cristão precisa para viver uma vida piedosa.
Ao afirmar que “espada do Espírito é a Palavra de Deus”, em Efésios 6:17, o apóstolo Paulo indica a ligação entre a obra do Espírito Santo e a operação da Palavra de Deus. Isso mostra que quando a Palavra de Deus é lida, analisada e aplicada, também ocorrem as obras do Espírito Santo. E, em Hebreus 4:12, ele usa deliberadamente a figura da Palavra de Deus como uma espada afiada, não por causa da violência implícita, mas por causa da mudança que ela pode trazer àqueles que a ouvem. Ele diz: “A palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração“. Isso novamente sugere o trabalho oculto do Espírito Santo ao colaborar com a Palavra de Deus para mudar a vida das pessoas.
Alguns autores proeminentes usam diferentes expressões em seus livros para definir e defender a Pregação Expositiva. Todos eles, no entanto, enfatizam o mesmo conceito, a centralidade das Escrituras:
John MacArthur: “A mensagem encontra sua única fonte nas Escrituras. Ela explica claramente o significado original pretendido por Deus e aplica este significado para hoje” (Pregação – Como pregar biblicamente, Editora Peregrino).
John Stott: “Exposição se refere ao conteúdo do sermão (verdade bíblica) em vez de estilo (um comentário contínuo). Expor a Escritura é trazer para fora do texto o que está lá e torná-lo visível. O expositor abre o que parece estar fechado, torna claro o que é obscuro, desvenda o que está emaranhado e dilui o que está compactado” (O desafio da pregação, Editora Ultimato).
Haddon Robinson: “[Pregação expositiva é] a comunicação de um conceito bíblico derivado e transmitido através de um estudo histórico-gramatical e literário de uma passagem em seu contexto, que o Espírito Santo primeiro aplica à personalidade e experiência do pregador e então através dele aos ouvintes” (Pregação Bíblica, Shedd Publicações).
Albert Mohler: “A pregação expositiva tem como propósito central a apresentação e aplicação do texto da Bíblia. Todas as outras questões e preocupações são subordinadas à tarefa central de apresentar o texto bíblico” (Deus não está em silêncio, Editora Fiel).
Mark Dever: “A pregação expositiva é uma pregação na qual o ponto principal do texto bíblico utilizado se torna o ponto principal do sermão a ser pregado” (Pregue: Quando a teologia encontra-se com a prática, Editora Fiel).
David Jackman: “A pregação expositiva leva a Bíblia a sério em seus próprios termos. O pregador expositivo não está tentando fazer algo com a Bíblia, mas está permitindo que a ela faça algo com ele, mudando sua mente e coração, para que ele se torne o canal pelo qual essa mensagem é passada aos outros” (Why Expository Preaching, Christian Focus Publications).
A pregação expositiva requer escavar uma passagem da Escritura e estudá-la com precisão em suas partes mais básicas. Quase sempre isso exige trabalhar com a linguagem original (ou muitas traduções confiáveis) e análise da gramática e do contexto histórico e literário da passagem. Além disso, o expositor deve dar atenção ao lugar onde a passagem se encaixa no fluxo geral da Bíblia. Nenhum texto bíblico pode ser entendido separado de toda a Bíblia. Por isso, ao estudar o texto bíblico para elaborar o sermão, o pregador faz algumas perguntas ao texto: “Por que este texto faz parte deste livro? Como ele se encaixa no desenvolvimento do livro todo? Como esta passagem funciona como um bloco de texto?” Isto significa que ele deve observar não somente os versículos que vai pregar, mas também como essa passagem se relaciona com a imutável revelação do caráter de Deus e com os Seus propósitos ao longo da Bíblia.
Começando de Gênesis até Apocalipse, o principal impulso da Escritura é a pessoa e obra de Jesus Cristo. Se pregamos a Bíblia corretamente, vamos pregar Cristo regularmente. Jesus testemunhou que toda a Escritura fala dele. O apóstolo Paulo disse: “Nós pregamos a Cristo” (Cl 1:28). Pregar a Bíblia é anunciar o Senhor Jesus Cristo. Então, a pregação deve ser cristocêntrica, porque as Escrituras encontram seu centro em Cristo. Ao pregarmos um texto biblico à luz não somente de seu contexto imediato, mas também à luz do que Deus está fazendo em toda a Escritura, certamente veremos que é em Cristo que todas as promessas de Deus encontram seu sim e amém (2 Co 1:20). Como o próprio Senhor revelou a seus discípulos, “as Escrituras testificam a meu respeito” (Jo 5:39). Jesus Cristo, sua pessoa e obra são o centro hermenêutico de toda Palavra de Deus, portanto é parte essencial de toda pregação que visa ser expositiva, ou bíblica.
Por fim, toda pregação, por natureza, deve conectar dois mundos: o mundo do texto e o mundo dos nossos ouvintes. Portanto, nossa mensagem deve ser determinada pelo texto e informada pelo contexto onde estamos inseridos. Nosso amor pela congregação ou pelas pessoas que nos ouvem deve nos mover a aplicar o texto bíblico fiel, ampla e especificamente. Fielmente, porque nossas aplicações são determinadas pelo texto bíblico. Amplamente, porque queremos ser usados como veículos de Deus para transformar corações, mentes, vontades, ações, palavras, e afeições de crentes e descrentes, idosos e crianças, homens e mulheres, etc. Especificamente, porque não estamos pregando para todos as pessoas do mundo, mas sim para aquelas pessoas especificas que nos ouvem. Visto que as culturas de países, regiões e até cidades são tão distintas quanto as pessoas que os compõe, não devemos assumir que o mesmo texto deve ser aplicado da mesma forma onde quer que formos. Não digo que os pregadores devem buscar ser relevantes, porque a fome por relevância é o que tem criado tantos pregadores que abandonaram a centralidade das Escrituras em troca daquilo que “está na moda” ou daquilo que “funciona com os jovens,” etc. Ela é a palavra mais relevante do mundo, mas ainda assim, por amor aos que nos ouvem, devemos buscar conexões legítimas entre a realidade do mundo do texto e a realidade do mundo da nossa audiência. Isto é fundamental!
É ministro do Evangelho, bacharel em Teologia, mestre em Missões e Estudos Transculturais pelo All Nations Christian College (Inglaterra). Especialização em Pregação Expositiva pelo Cornhill Training Center (Londres) e Stephen Olford Centre for Expository Preaching (Memphis, TN, USA).
Funcionamos com sede em Belo Horizonte desde 2004. Fomos contemplados com o cuidado do Senhor Jesus Cristo, que vem nos fortalecendo dia a dia. Temos a certeza de que este projeto veio dEle e existe somente para Sua honra e glória.
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