Marcando nossa Geração

Nelson Salviano

Certa vez, perguntaram a um pregador qual o lugar que ele entendia ter na história. A resposta foi: “Bom, é fácil para nós pensarmos em pessoas como Moisés, Samuel, Davi, Daniel, Paulo… os quais exerceram muita influência em seus dias, mas o que dizer sobre mim mesmo? Será que eu ocupo um lugar na história?” Paulo nos diz que cada filho de Deus tem um lugar na história: “Somos feitura de Deus, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10). Isso significa que cada um de nós tem uma função a exercer no serviço do Reino de Deus.

Pensemos de modo mais específico sobre a vida de dois grandes personagens do Velho Testamento. O primeiro deles é Davi. Em Atos 13:22, Davi é maravilhosamente descrito como “um homem segundo o coração de Deus e que fará tudo quanto agrada a Deus”, e continua no v.36, “Davi serviu ao conselho de Deus em sua geração”. A despeito de seus fracassos e pecados, sua vida foi usada para cumprir o propósito de Deus naquela geração. Eu creio que o mais importante para nós é encontrarmos nosso lugar nesta geração e, assim, cumprirmos o propósito de Deus em nossas vidas. Numa novela inglesa, tragicamente se diz, a respeito de um certo grupo de pessoas, que não faria diferença nenhuma se eles não tivessem existido. Que isso jamais seja dito a respeito de um cristão! No final das nossas vidas, a pergunta que teremos que responder a nós mesmos é: “Qual é a contribuição que a nossa vida prestou ao Reino de Deus?”

No Salmo 145:1-4 e 10-13 lemos sobre a atitude de Davi para com o Reino de Deus, e no Salmo 96:3-6 ele nos fala de um reino glorioso, de Deus em todo o Seu triunfo e poder, do Reino como sendo um reino eterno e como aquele que há de ser proclamado dia após dia a todas as nações. Neste texto temos a visão mundial de Davi. Ele lembrava das promessas feitas a Abraão que “na semente de Abraão todas as nações seriam abençoadas” (Gn 12:3) e percebeu que isto iria cumprir-se na sua vida e na sua semente.

Vamos pensar, primeiramente, na glória do Reino de Deus. Todas as vezes que fazemos a “oração do Pai Nosso” dizemos: “Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre” (Mt 6:13). Será que o nosso coração se empolga quando pensamos no Reino de Deus e sua glória? Davi pensou no Reino de Deus como um reino eterno, um reino que jamais passaria, o qual é descrito na epístola aos Hebreus como um reino que não pode ser abalado. O autor dessa epístola contrasta a natureza eterna do Reino de Deus com a natureza temporal dos reinos terrenos.

Estamos vivendo dias em que todos os reinos políticos do mundo estão sendo abalados. Ouvimos sobre a revolução na China, das demonstrações públicas na morte de Mao Tsé Tung e de seu sucessor; a revolta dos estudantes em Seul, na Coreia do Sul; a queda do governo comunista em diversos países. Constantemente ouvimos da queda de um governo e do levantar-se de outro. Vivemos dias em que os impérios econômicos têm sido abalados e percebemos que até mesmo o império de nossas próprias vidas, nossa segurança e saúde, pode e está sendo abalado. Todas as coisas estão sofrendo mudanças. A única realidade eterna é o Reino de Deus. A tragédia de nossos dias é que homens e mulheres estão olhando para os impérios e para os poderes terrenos ao invés de voltarem os seus olhos para este Reino Celestial (Mt 6:33).

No tempo da Revolução Chinesa podia-se ouvir até as crianças dizendo: “Não adorem os céus, não adorem a terra, adorem apenas os esforços humanos”. Esta é a grande idolatria humana, a adoração ao homem e ao seu poder, ao invés da adoração a Deus. Em 1950, o governo chinês convidou os pastores para uma reunião e disse: “Suas igrejas podem continuar no templo atual” e acrescentou: “Mas lembrem-se que um dia elas irão secar e morrer”. É interessante notar que essas pessoas que têm escrito ou declarado o obituário das igrejas têm falecido ou desaparecido, mas as igrejas têm se fortalecido e florescido. Muitos líderes chineses já se foram, mas, em meio àqueles anos de perseguição e sofrimento, o povo de Deus permaneceu firme. Esta foi a visão que Davi teve, a de um reino eterno.

Outro personagem do Velho Testamento que viu, de modo ainda mais claro, o propósito de Deus para Seu Reino foi Daniel. Ele estava num contexto profético, ainda que seu trabalho fosse de natureza civil. Ele viveu num período de trevas para o povo de Deus. Jerusalém havia sido destruída e o povo de Deus levado cativo. Daniel estava vivendo na corte de um rei pagão e ao redor dele estavam os exilados do seu próprio povo, a maioria deles havia perdido a visão e a fé. Contudo, Daniel tinha a visão do que Deus faria através do Seu Reino e, por toda a sua vida, o único propósito dele era fazer com que os governantes de seus dias reconhecessem o Reino de Deus. A gente se lembra como Nabucodonosor foi obrigado a admitir que “o Reino de Deus era sempiterno, e o seu domínio de geração em geração” (Dn 4:3b), e Dario, o Medo, em Daniel 6:26, disse: “(…) porque ele é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu Reino não será destruído, e o seu domínio não terá fim”. Este foi o grande propósito na vida de Daniel em meio aos idólatras de seus dias. Por causa disso, muitas vezes ele esteve exposto ao perigo. Sua influência levava homens e mulheres a confessarem a Deus como o único Deus vivo. O próprio Daniel teve uma compreensão do que seria o Reino de Deus no futuro, seu desenvolvimento e sua implantação. Em Daniel 7:13-14 e 27, ele nos fala da vinda do Messias. Eu creio que o correspondente deste texto no Novo Testamento é o que Jesus disse em Mateus 24:14 – “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim”. São essas palavras que têm influenciado muitos servos de Deus a irem proclamar o evangelho por todo o mundo.

Em abril de 1987, Deus me deu a grande oportunidade de visitar Israel. Lembro-me quando, assentado no Monte das Oliveiras, de frente para a Porta Dourada que dá entrada para o templo (esta porta está fechada com tijolos e, segundo os estudiosos, ela não será aberta até que o Libertador o faça pessoalmente), vieram à minha mente as palavras do Salmista Davi: “Levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória” (Sl 24:9b). Lembrei também das palavras ditas a Davi quando derrotou Absalão: “Por que vos calais, e não fazeis voltar o rei?” (2 Sm 19:10) e em minha mente, era como se essas palavras tivessem este sentido: “Preguemos o Evangelho para que, assim fazendo, estejamos trazendo de volta o Rei e estabelecendo o Seu Reino”. A evangelização mundial está sempre ligada à promessa da vinda do Rei.

Vejamos como Daniel teve essa visão do Reino e como isso influenciou a sua vida. Há quatro coisas sobre sua visão:

  1. Daniel cria de maneira inabalável nas promessas de Deus. Nas situações mais desesperadoras, Daniel tinha consciência da presença do Reino, mesmo em meio ao perigo. Na cova dos leões, Daniel estava numa situação que, aparentemente, não havia livramento. Contudo, ele estava consciente da presença do Deus vivo com ele. Na fornalha de fogo ardente foram lançados três jovens, mas havia um quarto homem andando com eles entre as chamas. Ali estava a presença do Deus vivo. Foi essa fé inabalável que levou muitos governantes dos seus dias a confessar que o Reino dos Céus e seu domínio são permanentes e eternos.
  2. Daniel vivia uma vida digna da qual proclamava. Em Daniel 6:4 lemos que nele não foi encontrada nenhuma falta, pois havia sido fiel em tudo quanto fizera. Por isso sua vida exerceu tanta influência entre os seus contemporâneos. Temos de lembrar que a proclamação oral da mensagem do Reino de Deus não é suficiente para conduzir vidas aos pés do Rei; devemos proclamá-la também através do nosso estilo de vida, como servos do Reino. O testemunho de Daniel sobre o Reino começou quando ainda era um jovem estudante estrangeiro. Ele tinha que aprender uma nova língua e viver dentro de uma outra cultura. Aspenaz, responsável por Daniel e seus amigos, preocupava-se em educá-los de tal maneira a se identificarem totalmente com a nova cultura. Os jovens precisavam adotar os novos costumes, se vestirem e se alimentarem como os jovens daquele país. Mas, em Daniel havia um espírito de independência. Ele não se deixou enredar pela nova cultura; a cultura que predominava nele era a que o Reino de Deus impunha. Ele disse para Aspenaz: “Eu não quero comer nem beber da porção do manjar do rei, porque eu tenho a porção melhor do Rei Celestial. Eu só bebo a água e como a comida que meu Deus tem preparado para mim”. Ele foi fiel a Deus e a sua cultura, a cultura do Reino.
  3. Daniel possuía um espírito de oração. Quando o profeta Jeremias recebeu a visão de que os cativos de Israel haveriam de ficar setenta anos na Babilônia, Daniel soube disso e orou, dia e noite, até que o propósito de Deus se cumprisse. Quando soube que o decreto havia sido assinado pelo rei, ordenando que ninguém deveria orar a qualquer deus ou rei senão ao rei Dario, Daniel, apesar disso, abriu suas janelas para Jerusalém e orou três vezes ao dia ao seu Deus. Em Daniel 9:21, lemos que Daniel orava e jejuava até que Deus o mandasse o anjo Gabriel para falar-lhe sobre as coisas futuras. Este é um ponto que eu gostaria de enfatizar, pois nunca haverá um desenvolvimento espiritual, e jamais chegaremos a um entendimento mais profundo dos mistérios de Deus e do Seu Reino, se não estivermos de joelhos.
  4. Daniel cria no futuro do Reino de Deus. Ele cria que viria um dia em que o Reino de Deus prevaleceria e este era o seu maior anseio e desejo. E foi por isso que ele determinou-se a proclamar o Reino de Deus aos pagãos de seus dias, ao próprio Nabucodonosor e a todos os governantes da Babilônia e da Pérsia. Ele sabia que a visão futura da vinda do Reino estava nas mãos de Deus.

Daniel tinha essa visão do Reino e ela marcou sua geração. Podemos encontrar uma visão do Reino hoje?

Cremos que Deus está agindo de maneira especial na Sua Igreja e em Seu Reino. O Senhor Jesus Cristo é o grande Rei e Ele está no Trono! Temos falado e cantado muito sobre o Reino, mas será que estamos fazendo o suficiente para que homens e mulheres possam compreender o significado do Reino de Deus? Será que estamos sendo usados por Deus para influenciar essa geração? Deus nos dará essa visão se a buscarmos de todo o nosso coração.

Quatro princípios que devemos seguir:

  1. Reconhecer a glória do Reino. Sabemos que o Reino de Deus é um reino eterno e glorioso, e isso deve ser o nosso propósito e maior desejo. Temos de viver para a glória do Reino.
  2. Dedicar nossa vida ao serviço do Reino. Nossas ações devem refletir nossa fé no Reino. Nosso testemunho é crucial para que outros vejam a realidade do Reino de Deus.
  3. Persistir na oração. A oração é fundamental para trazer a presença e o poder do Reino de Deus em nossas vidas e no mundo ao nosso redor. Devemos orar incessantemente pelo avanço do Reino.
  4. Manter uma visão futura do Reino. Devemos acreditar que o Reino de Deus prevalecerá e que a nossa missão é contribuir para o seu crescimento e estabelecimento. A visão de um Reino futuro deve guiar nossas ações e nosso serviço.
 

Conclusão:

Podemos deixar uma marca nesta geração ao vivermos uma vida dedicada ao Reino de Deus, assim como Davi e Daniel fizeram em suas épocas. Nossa contribuição ao Reino deve ser contínua e refletir nossa fé, oração e visão do futuro. Que possamos ser instrumentos de Deus para cumprir Seu propósito em nossa geração.


Nelson Salviano

É ministro do Evangelho, bacharel em Teologia, mestre em Missões e Estudos Transculturais pelo All Nations Christian College (Inglaterra). Especialização em Pregação Expositiva pelo Cornhill Training Center (Londres) e Stephen Olford Centre for Expository Preaching (Memphis, TN, USA).

Compartilhe
Comentários
0 0 votes
Avaliado
inscreva-se
Notificar
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
Sobre

Funcionamos com sede em Belo Horizonte desde 2004. Fomos contemplados com o cuidado do Senhor Jesus Cristo, que vem nos fortalecendo dia a dia. Temos a certeza de que este projeto veio dEle e existe somente para Sua honra e glória.

Notícias

Fique por dentro de tudo!

Please enable JavaScript in your browser to complete this form.
Contato

contato@escaleministries.com.br

+55 (31) 99841-1148​

Nos siga nas redes Sociais:

Mapa do site